quarta-feira, 29 de julho de 2015

Yasuke - O Samurai Negro

No final do século 16, Oda Nobunaga, o mais poderoso senhor da guerra do Japão, tinha um escravo africano que não era apenas uma curiosidade cultural, mas também seu guarda-costas e que alcançou bastante prestígio entre os japoneses daquele tempo.

Ele ficou conhecido como Yasuke, mas ninguém sabe ao certo seu nome verdadeiro. Consta em um dos relatos que Yasuke teria cerca de um 1.90 de altura e, se assim foi, a sua estatura teria sido muito impressionante para os japoneses da época. Nobunaga não acreditou que a aquela pele negra fosse real e suspeitava que os jesuítas, com os quais o africano chegou ao Japão, estivessem tentando pregar-lhe uma peça.

Mandou que seus vassalos lavassem Yasuke e, só depois de ver que nada se alterava na pele do africano, Nobunaga se convenceu de que ali não havia nenhuma enganação. Encantado com a descoberta, conseguiu dos jesuítas que Yasuke se colocasse ao seu serviço. Os rumores eram de que o escravo ia ser feito um Daimyo (senhor feudal japonês).

Concretamente, porém, os registros dos jesuítas revelam que Nobunaga deu a Yasuke uma casa e uma espada katana, arma que somente os samurais manuseavam. Nobunaga também lhe atribuiu o distinção de carregar a sua lança pessoal e vestir uma armadura, privilégio que era reservado apenas para os nascidos em famílias de samurais.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

O Uso do Judô no Cotidiano

“O que ensino não é a técnica (jujutsu), mas um caminho (Judo)... O principio do DO (caminho) é a sua aplicabilidade nos aspectos da vida. O verdadeiro significado do Judo é a prática do corpo e da mente que são, ao mesmo tempo, modelos para o cotidiano e no trabalho" (Jigoro Kano)

O Judô, assim como a maioria das artes marciais de origem japonesa são "heranças" do estilo de treinamento dos Samurais, onde primavam pela moral e um rígido código de honra, o bushido, portanto podemos afirmar que o Judô possui uma base filosófica oriunda dos antigos samurais sintetizada pelo Mestre e Fundador Jigoro Kano.

Em uma rápida análise torna-se difícil a compreensão onde os elementos filosóficos que o Judô prega enquadra-se em nossa vida cotidiana. No entanto, se observarmos um treino tradicional de Judô, percebemos que nele estão contidos elementos que representam os "pilares filosóficos" enunciados pelo Mestre Jigoro Kano: O Jita Kyoei e o Seiryoko Zenyo.

O Jita Kyoei é mais fácil sua compreensão quando elevamos o Judô para a vida cotidiana, pois se trata em linhas gerais da convivência harmônica entre indivíduos, como o Mestre Jigoro Kano define:

“(...) Por conseguinte, a situação proporciona vantagens de cada um deles que eles não teriam sozinho. Isso é chamado de sojo sojou Jita Kyoei, o que significa prosperidade mútua através da ajuda mútua e de concessão. Isso pode ser reduzido para Jita Kyoei. Por esta razão, se cada um dos membros de um grupo ajudar uns aos outros e agir sem egoísmo, o grupo pode ser harmonioso e agir como um (...)” KANO, Jigoro "Mind over Muscle“

O Jita Kyoei simboliza a ação conjunta para uma meta em comum, focando suas energias e abandonando os interesses particulares em prol de um “bem comum”. A estrutura básica de grande parte do treinamento e prática do Judô está em torno do Seiryoko Zenyo, onde significa o uso mais eficiente da força.

É uma base filosófica, na qual sue compreensão é mais simples quando exemplificamos seu uso no treinamento físico podendo ser citado o princípio do desequilíbrio.

Podemos sim, elevar o principio da máxima eficiência para a vida cotidiana, se encararmos a eficiência como evitar o uso indevido (desperdício) de energia. Somos seres, onde as emoções e os sentimentos desencadeiem uma série de mecanismos que irão expressar tais emoções ou sentimentos.

É sabido que em nosso cotidiano não vivenciamos apenas momentos bons, as adversidades, os problemas, as divergências de opiniões também se fazem presentes, e isso pode gerar sentimentos negativos, como raiva, mágoa ou rancor. Sob a ótica do principio da máxima eficiência, "alimentar" tais sentimentos negativos é um desperdício energético, pois ao invés de utilizar a energia em pensamentos negativos, relembrar a situação, as ofensas ditas, podem potencializar os sentimentos negativos e como consequência, acabar por afetar o convívio em seu meio social. O uso eficiente da energia nos indica que devemos conter essa situação e “movimentar" a energia para um fim benéfico, como a solução de um embate, por exemplo. Isso é alcançado através do treinamento mental.

O verdadeiro Judoca é aquele que consegue compreender e praticar o Judô tanto em nível físico como mental, buscando aprimoramento a cada dia. Um Judoca é diferenciado dos não praticantes, pois consegue a convivência em harmonia com os demais Indivíduos e melhor utiliza sua energia para fins benéficos.

“O Principio da máxima eficiência, quando aplicado para a melhora e o perfeito convívio social, além de quando aplicado para a coordenação da mente e corpo, na ciência do ataque e defesa, bem geral, ordem e harmonia entre membros, e isso pode somente ser alcançado através da ajuda mútua e concessões, guiando para o benefício mútuo." (Jigoro Kano)

Fernando Ikeda (nidan) – Revista Spirit of Judo

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Kiai

Kiai é o termo usado para designar a exteriorização da energia corporal, concentrada no Tanden (baixo-vebtre) e liberada em forma de um grito alto. É o uso consciente de uma técnica que todos nós já usamos inconscientemente. Por exemplo: quando você contrai o abdômen quando está levantando algum peso e emite um som é uma forma rudimentar de Kiai. A contração muscular no instante final do golpe lhe dá mais força e o grito produz dois efeitos psicológicos: aumenta a sua coragem e força, e assusta e desconcerta o adversário.

Etimologicamente “Kiai” traduz-se por União do Espírito, sendo composta na língua japonesa pelo substantivo “Ki” (espírito) e “Ai” (contração do verbo ”awazu”, unir).

Happo no Kuzushi - desequilíbrio para os oito lados

O Kuzushi é o princípio vital, a alma, do Judo, e foi desenvolvido pelo Shihan Jigoro Kano através de observações e estudos dos princípios da Física e da anatomia humana. O Kuzushi possibilita desequilibrar o oponente, levando-o a uma posição na qual sua estabilidade, e consequentemente sua habilidade de ataque e defesa, é destruída, permitindo assim, arremessa-lo com o mínimo de esforço e com a máxima eficiência. Nenhuma escola de Jujutsu anterior ao Judo fora capaz de desenvolver essa técnica.

Os 8 Lados do Desequilíbrio

1. Mae-kuzushi - Desequilíbrio para frente.
2. Ushiro-kuzushi - Desequilíbrio para trás.
3. Hidari-kuzushi - Desequilíbrio para esquerda.
4. Migi-kuzushi - Desequilíbrio para direita.
5. Migi-ushiro-sumi-kuzushi - Desequilíbrio para trás à direita.
6. Migi-mae-sumi-kuzushi - Desequilíbrio para frente à direita.
7. Hidari-ushiro-sumi-kuzushi - Desequilíbrio para trás à esquerda.
8. Hidari-mae-sumi-kuzushi - Desequilíbrio para frente à esquerda.

GoKyo No Waza

Em 1895, treze anos após criar o Judo, Shihan Jigoro Kano, com o intuito de dar uma sequência lógica e prática ao ensinamento do Judo, separou quarenta técnicas de projeção - dentre centenas possíveis - e as agrupou de forma pedagógica em cinco séries de oito técnicas cada e denominou de GoKyo No Waza.

Em 1920 o Gokyo foi completamente revisto pelos Shiteno. Alguns autores afirmam que Shihan Jigoro Kano, por algum motivo desconehcido, não participou e nem supervisionou os trabalhos, prevalecendo assim a preferência de seus discípulos e não a sua sequência anterior. É esse o método que ainda hoje é aplicado, porém muitos mestres classificam esta revisão como um erro, pois não foi levado em conta toda a lógica pedagogia que Shihan Jigoro Kano aplicou na criação do Gokyo.

Evidentemente que no Judo existem centenas de outras técnicas (e suas variações), as quais serão aprendidas no decorrer dos anos de dedicação, treino e estudo de cada Judoka.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Shitenno - Os Quatro Reis Celestiais do Judo

Entre os melhores alunos de Shihan Jigoro Kano estavam os que viriam a ser conhecidos como os Os Quatro Guardiões do Judo. Seus nomes ecoam orgulhosamente pela Terra:

Sakujiro Yokoyama
Divulgador do Judo devido sua habilidade técnica e combates contra outras escolas e estilos de lutas marciais.

Yoshitsugu Yamashita
Também conhecido como Yoshikazu Yamashita, grande conhecedor e inteligente como Shihan Jigoro Kano.

Shiro Saigo
Conhecido como Sugata Sanshiro, ótimo e temido lutador, criador da técnica Yama Arashi (Tempestade na Montanha), divulgador do Judo devido sua habilidade técnica e combates contra outras escolas e estilos de lutas marciais, o que lhe rendeu filmes, livros e até canções em sua homenagem.

Tsunejiro Tomita
Ótimo lutador e organizador da Kodokan (Saigo e Tomita foram os primeiros "Shodan" do Kodokan).

Estes quarto senhores da luta carregavam a bandeira do Kodokan e são reverenciados não apenas como grandes Judokas, mas também como homens retos e avançados, o ideal pelo qual Shihan Jigoro Kano lutava. Os arquivos históricos do Instituto Kodokan mostram que Shihan Jigoro Kano jamais conheceu alguém igual a estes seus alunos, que orgulhosamente o Instituto Kodokan chama de Shitenno - Os Quatro Reis Celestiais do Judo.

Atemi-Waza

Atemi-waza são técnicas de socos, chutes, golpes de mão aberta, cotoveladas, joelhadas e ataque com os dedos em pontos sensíveis da anatomia humana (pontos vitais), e estão codificados nos Katas do Judo (Seiryoku zenyo-no-kata, Kime-no-kata e o Goshin-jutsu-no-kata são alguns exemplos).

Com a transformação do Judo em esporte olímpico, o atemi-waza foi completamente esquecido em 90% dos Dojos e isso tem afetado a preservação destas técnicas. O treinamento olímpico não ensina as técnicas de atemi-waza devido a proibição do seu uso em campeonatos - devido ao grande risco de ferir seriamente o adversário - e, na grande maioria das vezes, os Judokas só são apresentados a essas técnicas nos exames para graduações superiores, através dos Katas. Mas Atemi-waza existe e é tão importante quanto as demais divisões técnicas do Judo.

O atemi-waza é extremamente eficientes em termos de defesa pessoal - é usado por instituições policiais de diversos países - e pode ser treinado de várias maneiras:

Kata - Kata é uma forma predeterminada de movimentos, herança das antigas escolas de JuJutsu. Nessa forma de treinamento Uke e Tori aplicam as técnicas de ataque e defesa.

Defesa pessoal - Nesse método de treinamento podemos usar as técnicas de atemi-waza com mais ênfase. Também treinamos através do Kata, a diferença é que os katas são livres, podendo usar variações de vários golpes.

Treino Livre - Uma outra maneira é o treino livre, nele devemos usar EPIS (equipamento de proteção individual) para proteger a integridade física dos Judokas e tornar o treino o mais real possível. O Makiwara também pode ser usado no treinamento de atemi-waza.

Forma de educação física - Seiryoku Zenyo Kokumin Taiku é um Kata de atemi-waza ensinado em toas as escolas do Japão como uma forma de educação física baseado no principio da máxima eficiência, visando o treino do corpo e da mente.

O Judo é uma arte completa e deve ser estudado como um todo, incluindo o atemi-waza!

Bushido - O Caminho do Guerreiro

O verdadeiro Judoka é um Bushi (guerreiro) e o Bushido (Caminho do Guerreiro) é o código de honra, de ética e de princípios morais na qual o Bushi tem o dever de seguir a todo custo, não só no tatame, como também em sua vida diária.

O Bushido não é meramente uma lista de regras a ser seguidas em troca de faixas ou títulos, mas um estilo de vida nobre. Seguir o Bushido é dar ênfase à lealdade, fidelidade, coragem, justiça, educação, humildade, compaixão, honra e acima de tudo, viver e morrer com dignidade.

Estes são os sete princípios que regem o código do Bushido. Sede fiel a ele e vossa honra crescerá. Rompe-o, e vosso nome será insultado pelas gerações futuras.

義 Gi – Justiça, Retidão e Honestidade
Seja honesto em todas as suas relações. Acredite na Justiça, não a que é dada pelos outros, e sim na sua própria justiça. Para um autêntico Judoka não existem tons de cinza em relação à honestidade e justiça. Só existe o certo e o errado. E pra ser justo é necessário fazer o julgamento correto em relação à tudo em sua vida.

Yuu – Coragem, Bravura heroica
Um Judoka deve ter coragem heroica. Viver é arriscado e perigoso e esconder-se como uma tartaruga se esconde em sua concha não é a maneira mais adequada de viver. Devemos aprender a viver a vida ao máximo, intensamente. Substitua o medo pelo respeito e cautela. A coragem heroica não é cega, ela é inteligente e forte.

仁 Jin – Compaixão, Benevolência
Através de um treinamento intenso o Judoka torna-se rápido e forte, porém ele usa essas habilidades para fazer o bem para as pessoas e tem compaixão por elas. Amor, amizade, solidariedade e nobreza de sentimentos são considerados como os maiores atributos da alma. Ajude seus colegas em todas as oportunidades que houver.

礼 Rei – Respeito, Polidez e Cortesia
O Judoka não tem nenhuma razão para ser cruel. Não há necessidade de provar a sua força. Um Judoka é cortês até mesmo para com os seus inimigos. Se não fosse assim, ele não seria melhor do que qualquer animal. Um Judoka é respeitado não só por sua coragem, mas também pela forma como eles tratam os outros.

诚 Makoto – Honestidade, sinceridade absoluta
Mentir é um ato considerado covarde e desonroso e portanto quando um Judoka diz que vai fazer tal coisa, é como se ele já tivesse feito. Nada no mundo conseguirá impedi-lo de concretizar o que disse. Um Judoka não precisa dar a sua palavra e nem precisa prometer nada. Quando um Judoka fala, é porque ele vai agir.

名誉 Meiyo – Honra, Glória
O verdadeiro Judoka só tem um juiz de sua honra, e este juiz é ele mesmo. As escolhas que você faz e como você trabalha para obtê-las são um reflexo de quem você realmente é. Você não pode se esconder de si mesmo. Muitas das nossas decisões são influenciadas pelos outros, o que nos faz parecer hipócritas.
Dizemos muitas vezes o que os outros querem que digamos, vemos o que os outros querem que vejamos. Ouvimos o que os outros querem que ouçamos. O valor da nossa dignidade pessoal está implícito na palavra honra. “Desonra é como uma cicatriz em uma árvore que o tempo, em vez de curar, só ajuda a aumentar”.

忠義 Chuugi – Dever e Lealdade
Um Judoka é extremamente leal àqueles que estão sob seus cuidados. Por quem ele é responsável, ele permanece fiel. Suas palavras e suas ações pertencem à você, assim como todas as consequências que se seguem a partir delas. “A palavra de um homem deve ser como sua impressão digital: Você deve levá-la aonde quer que vá”.

“A vida de alguém é limitada, porém a honra e o respeito duram para sempre”
(Miyamoto Musashi)

terça-feira, 28 de abril de 2015

Os Princípios que Inspiraram Shihan Jigoro Kano na Idealização do Judo

Seiryoku Zen Yo - Princípio da Máxima Eficácia do Corpo e do Espírito: É ao mesmo tempo a utilização global, racional e utilitária da energia do corpo e do espírito. Shihan Jigoro Kano afirmava que este princípio deveria ser aplicado no aprimoramento do corpo para torná-lo forte, saudável e útil, podendo ainda ser aplicado para melhorar a nutrição, o vestuário, a habitação, a vida em sociedade, a atividade nos negócios e na maneira de viver em geral, estando convencido que o estudo desse princípio, em toda a sua grandeza e generalidade, era muito mais importante e vital do que a simples prática de uma luta. Realmente, a verdadeira inteligência deste princípio não nos permite aplicá-lo somente na arte e na técnica de lutar, mas também nos presta grandes serviços em todos os aspectos da vida. Segundo Shihan Jigoro Kano, não é somente através do Judo que podemos alcançar este princípio. Podemos chegar à mesma conclusão por uma interpretação das operações cotidianas, através de um raciocínio filosófico.

Jita Kyoei - Princípio da Prosperidade e Benefícios Mútuos: Diz respeito à importância da solidariedade humana para o melhor bem individual e universal. Shihan Jigoro Kano pensava ainda que a ideia do progresso pessoal devesse ligar-se a ajuda ao próximo, pois acreditava que a eficiência e o auxílio aos outros criariam não só um atleta melhor como um ser humano mais completo.

Ju - Princípio da Suavidade (Ceder para Vencer): Não está apenas relacionado ao físico, mas também ao intelecto. Shihan Jigoro Kano explicou este terceiro princípio durante um discurso proferido na University of Southern California, por ocasião das Olimpíadas de 1932:

"Deixem-me agora explicar o que significa realmente esta suavidade ou cedência. Supondo que a força do homem se poderia avaliar em unidades, digamos que a força de um homem que está na minha frente é representada por dez unidades, enquanto que a minha força, menor que a dele, se apresenta por sete unidades. Então se ele me empurrar com toda a sua energia, eu serei certamente impulsionado para trás ou atirado ao chão, ainda que empregue toda minha força contra ele. Isso aconteceria porque eu tinha usado toda a minha força contra ele, opondo força contra força. Mas, se em vez de enfrentá-lo, eu cedesse à força recuando o meu corpo tanto quanto ele o havia empurrado mantendo, no entanto, o equilíbrio, então ele inclinar-se-ia naturalmente para frente perdendo assim o seu próprio equilíbrio. Nesta posição ele poderia ter ficado tão fraco, não em capacidade física real, mas por causa da sua difícil posição, a ponto de a sua força ser representada, de momento, por digamos apenas três unidades, em vez das dez unidades normais. Entretanto eu, mantendo o meu equilíbrio conservo toda a minha força tal como de início, representada por sete unidades. Contudo, agora estou momentaneamente numa posição vantajosa e posso derrotar o meu adversário utilizando apenas metade da minha energia, isto é, metade das minhas sete unidades, ou três unidades e meia da minha energia contra as três dele. Isso deixa uma metade da minha energia disponível para qualquer outra finalidade. No caso de ter mais força do que o meu adversário poderia sem dúvida empurrá-lo também. Mas mesmo neste caso, ou seja, se eu tivesse desejado empurrá-lo igualmente e pudesse fazê-lo, seria melhor para eu ter cedido primeiro, pois procedendo assim teria economizado minha energia".

O Judo em Jundiaí - Sensei Kodansha Mário Fagundes

Em Jundiaí o Judo começou a ser praticado em 1952, trazido pelo professor Kodansha Mário Fagundes - 7º Dan. Sensei Kodansha Mário foi aluno da Associação Tambucci, de 1949 a 1952, e treinou paralelamente Jujutsu na Academia Pedro Hemitério, ambas em São Paulo. Em 1955 fundou a Associação de Judo Fagundes, que ao longo dos anos consolidou-se como o mais tradicional Dojo de Jundiaí e região.

Sensei Kodansha Mário Fagundes nos deixou em 2004, aos 73 anos, e hoje o Dojo é dirigido pelos Senseis Pedro Rogério Fagundes e Marcio Luiz Fagundes, que herdaram do pai a missão de formar, não apenas atletas, mas cidadãos que utilizem a filosofia do Judo para o bem próprio e o da comunidade.

Confederação Brasileira de Judo (CBJ) e Federação Paulista de Judo (FPJ)

Com todo o progresso do Judo no Brasil, necessário se fazia à criação de um órgão mentor para dirigir e coordenar as atividades judoísticas em franco desenvolvimento. Para essa coordenação funda São Paulo a sua federação em 17 de abril de 1958. Na época, o Judo no Brasil era dirigido pela Confederação Brasileira de Pugilismo, mas já se fazia necessário um órgão nascido nos próprios meios judoísticos, dedicando-se exclusivamente ao Judo e que o representasse nacionalmente e internacionalmente. Assim, em 18 de março de 1969, foi fundada a Confederação Brasileira de Judo. Em 22 de fevereiro de 1972, foi a Confederação Brasileira de Judo reconhecida oficialmente.

Judo no Brasil

O Judo chegou ao Brasil com a imigração japonesa, cujo primeiro contingente chegou ao porto de Santos em 18 de junho de 1908 a bordo do navio Kasato Maru (embora haja rumores de que, em 1903, certo professor Miura já ensinasse Judo aqui no Brasil). Porém, estes imigrantes japoneses, se dedicando a outros afazeres e deveres, principalmente a agricultura, faziam do Judo apenas uma atividade social, uma forma de manter laços e apagar a saudade da pátria longínqua, ficando assim restrito a pequenos grupos e sem maiores pretensões.

O Judo só começou a ser realmente difundido por todo o Brasil no inicio dos anos vinte com a chegada dos grandes lutadores do Kodokan, que lançando e aceitando desafios, divulgavam o Judo lutando publicamente nas praças e circos, fazendo disso uma forma de subsistência ou complementação financeira. O mais famoso entres eles foi, sem dúvida nenhuma, Mitsuyo Maeda (ou Eisei Maeda) - 7º Dan, mais conhecido como Conde Koma.

A partir de 1925 houve um grande impulso no Judo com a chegada ao Brasil de vários professores do Kodokan que foram espalhando o Judo para as diversas regiões onde a imigração japonesa era mais intensa. Entre estes, destacamos:

Tatsuo Okochi (8º Dan, 1892-1965) - chegou ao Brasil em 1924, foi o fundador e primeiro presidente da Associação de Faixas Pretas do Kodokan. Em 1958 ajudou a fundar e foi o primeiro diretor técnico da Federação Paulista de Judo, a primeira federação estadual do país. Conseguiu trazer vários professores de Judo do Japão para elevar o nível técnico do Judo brasileiro, contribuindo muito para o intercâmbio cultural entre os dois países.

Sobei Tani (6º Dan, 1908-1969) - chegou ao Brasil em 1931, estabeleceu-se na região do Jaraguá, em São Paulo, onde fundou sua academia e ensinou Judo aos jovens. Entre seus alunos destacam-se os irmãos Shiozawa, consagrados atletas que defenderam o Brasil em várias competições internacionais.

Katsutoshi Naito (7º Dan, 1895-1969) - chegou ao Brasil em 1928, quatro anos depois em 1932, iniciava suas atividades judoísticas, no bairro de Rio Baixo, em Suzano, São Paulo. Foi um dos fundadores da Hakkoku Jukendo Renmei - a Federação de Judo e Kendo do Brasil -, que por sua vez deu início à direção do Judo no Brasil. Foi o primeiro medalhista olímpico do Japão (1924, em Paris), com a modalidade de luta livre olímpica, e consequentemente, introduziu esta prática esportiva no Japão. Ocupou o primeiro cargo de diretor de Judo na Federação Paulista de Pugilismo.

Ryuzo Ogawa (8º Dan, 1883-1975) - fundador da Academia Budokan, chegou ao Brasil em 1934. Tornou sua academia a primeira de projeção nacional, instalando filiais em vários estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, entre outros. O número de filiais da Academia Budokan chegou a mais de 100 unidades em todo o Brasil. Conhecido como professor de rigorosos métodos e disciplinas, procurou fazer com que seus alunos seguissem à risca os ensinamentos do verdadeiro Judo.

Na década de 1940 - ficando esclarecidas as dúvidas quanto as suas origens do antigo Jujutsu -, consolida-se o prestígio do Judo em todo o Brasil, propagando-se a sua prática no Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, dentre outros estados, fundando-se novas academias e crescendo o número de seus praticantes. Cabe aqui destacar também o importante trabalho de dois brasileiros:

Augusto de Oliveira Cordeiro (Rio de Janeiro, 1920) - foi o primeiro presidente da Confederação Brasileira de Judo depois de oficializada, em 1972, permanecendo no cargo até o início de 1979, e presidente da União Pan-Americana de Judo, de 1956 a 1972. Contribuiu muito para o desenvolvimento do Judo no Brasil, tanto como atleta, técnico, e inúmeras vezes, como chefe de delegações em competições internacionais. Como professor, formou alunos de destaque, entre os quais Luiz Alberto Mendonça (tri-campeão sul-americano); Rudolf Hermany (campeão brasileiro); Antônio Kroff (campeão brasileiro); Antônio Afonso Alves (campeão brasileiro) entre outros. Em 1964, recebeu o convite especial do Kodokan para atuar como árbitro nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Seu maior sonho realizado foi conseguir elevar o nível técnico do Judo brasileiro, que permitiu a expansão desse nobre esporte para todos os estados do país.

Jamil Kalil Nasser (1914-1979) - foi um dos responsáveis pela fundação da CBJ, sempre se colocando em segundo plano procurando não aparecer, e foi um dos que mais procurou dar auto-suficiência ao Judo brasileiro. Batalhou muito para a realização do primeiro Campeonato Brasileiro de Judo e, juntamente com Paschoal Segreto Sobrinho, conseguiu que o Brasil sediasse o seu primeiro Campeonato Mundial em 1965, no Rio de Janeiro.

Assim, através do esforço e dedicação de japoneses e brasileiros, o Judo progride a passos largos. Em São Paulo, no ano de 1951, foi realizado o primeiro campeonato oficial de Judo. Em 1954 o Rio de Janeiro também realiza o seu. Ainda em 1954, realiza-se o primeiro Campeonato Brasileiro, tendo como sua maior expressão o judoka Massayoshi Kawakami, campeão nas categorias 3º Dan e absoluto. Em 1956 o Brasil participa pela primeira vez de uma competição no exterior, mais precisamente do II Campeonato Pan-Americano, realizado em Cuba, ficando em honroso segundo lugar. Formavam a equipe os judokas Massayoshi Kawakami, Sunji Hinata, Augusto Cordeiro, Luiz Alberto Mendonça, Hikari Kurachi e Milton Rossi.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Como Dobrar o Judogi e Amarrar o Obi (faixa) corretamente!

O Judo é repleto de tradições e simbolismo, e cada detalhe tem um significado e uma razão de ser. O Judogi é a nossa armadura, e deve ser tratado com cuidado e respeito, mantendo-o sempre limpo, e quando não está em uso, devidamente dobrado. A Faixa corresponde ao nosso caráter (ela nos envolve de responsabilidade), por isso quando ela não está amarrada em nossa cintura, não deve estar jogada no chão ou pendurada nos ombros ou pescoço; o nó é o nosso respeito, nosso compromisso, por isso nunca devemos desamarrar nossas faixas em frente aos mestres e demais colegas.

Judoka não usa Kimono!

É bem comum vermos algumas pessoas (inclusive alguns instrutores e praticantes) referir-se ao uniforme usado no Judo como Kimono (ou quimono). Contudo, não se usa Kimono no Judo. Kimono (“coisa de vestir”) é uma vestimenta típica e tradicional japonesa, usada hoje em dia por mulheres, homens e crianças somente em cerimonias e ocasiões especiais, como casamentos e matsuris. Portanto, não é correto nomear a roupa de treino do Judo como Kimono.

Os Samurais utilizavam uma vestimenta que lembra o kimono por baixo de suas armaduras chamadas de O-Yoroi (“Grande Armadura”). Tal roupa era formada pela shitagi (a parte de cima), que era amarrada com a Obi (o cinto ou faixa), e a parte de baixo que compreendia a Hakama (uma saia-calça), tradicionalmente usada por homens.

Desta forma, o correto é chamar o uniforme do Judo de Judogi (gi=uniforme). Podemos também chamar de Keikogi (“uniforme de treinamento”) ou “Dogi” (“uniforme usado no estudo do caminho”).

Foi em 1915 que o Keikogi branco tradicional foi introduzido por Shihan Jigoro Kano em seu Dojo; em seguida, o keikogi passou a ser copiado pelas outras artes marciais.

O Judogi branco, imaculado, representa a nossa mente que deve estar limpa, pura. Simboliza paz, pureza, perfeição. Entre os samurais, o branco era um símbolo de pureza e morte. Os samurais utilizavam o branco sob a armadura para demonstrar que estavam dispostos a morrer no campo de batalha.

O Judogi é a nossa armadura, e deve ser tratado com cuidado e respeito, mantendo-o sempre limpo, e quando não está em uso, devidamente dobrado. A Faixa corresponde ao nosso caráter (ela nos envolve de responsabilidade), por isso quando ela não está amarrada em nossa cintura, não deve estar jogada no chão ou pendurada nos ombros ou pescoço; o nó é o nosso respeito, nosso compromisso, por isso nunca devemos desamarrar nossas faixas em frente aos mestres e demais colegas.

Mitsuyo Maeda - O Conde Koma

Mitsuyo Maeda (ou Eisei Maeda) - 7º Dan, mais conhecido como Conde Koma - nasceu em Aomori, ao norte da ilha Japonesa, em 1878. Quando tinha aproximadamente 18 anos ele se mudou para Tóquio onde começou a praticar Judo com Shihan Jigoro Kano (seu registro de entrada no Kodokan data de 1897). Ele possuía um talento natural para o Judo e rapidamente passava de uma graduação a outra e se estabeleceu como o jovem Judoka mais promissor no Kodokan. Entre os anos de 1921 e 1922, o Conde Koma fez várias demonstrações no Rio de Janeiro e em São Paulo, aceitando desafios de boxeadores, lutadores de luta livre e outros, vencendo a todos. Posteriormente radicou-se em Belém do Pará (naturalizado como Otávio Mitsuyo Maeda), onde montou sua escola com grande sucesso. Conde Koma tem a seu crédito o primeiro registro nos anais da história do Judo brasileiro, aceitando e ganhando todos os desafios que lutou (alguns pesquisadores chegam a mencionar mais de mil combates sem derrota), promovendo assim o Judo por todo o Brasil. De seus vários alunos, os irmãos Gracie (Carlos e Hélio) deram continuidade ao seu trabalho, criando o Brazilian Jiu-Jitsu (BJJ), progredindo e fundando novas escolas em algumas capitais e se projetando no cenário esportivo brasileiro e mundial.

Há muitas teorias sobre a origem do apelido dado a Maeda. Uns acreditam que o apelido veio da palavra Komaru, que em japonês significa "incomodado" ou “estar em situação delicada” (uma referência irônica ao fato de Maeda estar sempre sem dinheiro) e Maeda teria retirado a última sílaba da palavra, ficando Koma, e acrescentou a palavra "Conde" por sugestão de um amigo espanhol. Entretanto, tem-se como do próprio Maeda esta declaração a um repórter de uma revista européia durante uma viagem para a Península Ibérica em 1908: “Um eminente cidadão espanhol me atribuiu o titulo de Conde Koma pelas minhas vitórias nas lutas e aparência física, e o povo, carinhosamente passou a usa-lo em detrimento do meu próprio nome”..

Maeda batizou com seu apelido a academia de Judo que fundou na capital paraense e pelo qual ficou bem conhecido no Brasil. Em sua academia, Maeda ensinava Judo restritamente como uma técnica de defesa pessoal.

Em 1929, Maeda foi promovido pelo Kodokan ao sexto Dan, e em 27 de novembro de 1941, ao sétimo Dan, porém nunca soube desta promoção, pois faleceu em Belém no dia 28 de novembro de 1941. A causa da morte foi doença renal, sendo sepultado no cemitério Santa Isabel.

Shihan Keiko Fukuda

A maior discípula que Shihan Jigoro Kano teve foi Keiko Fukuda. Nascida em Tóquio, no dia 12 de abril de 1913, é a judoka de mais alta hierarquia na história, sendo a primeira e a única mulher do mundo a alcançar um dos mais altos graus do Judo Kodokan: o 10º Dan.

Shihan Fukuda ficou órfã de pai muito cedo e na sua juventude aprendeu as artes da caligrafia, arranjo de flores e a cerimônia do chá - atividades típicas de uma mulher no Japão daquela época. Porém, apesar de sua educação convencional, Shihan Fukuda se sentia ligada ao Judo por meio das lembranças de seu avô, o samurai e mestre Hachinosuke Fukuda, primeiro professor do Shihan Jigoro Kano. O próprio Shihan Jigoro Kano convidou a jovem e frágil Fukuda (com apenas 1,50m e menos de 45 kg) para estudar Judo - um gesto incomum para a época - como um sinal de respeito pelo seu avô. Shihan Fukuda começou a praticar Judo em 1935 (com 21 para 22 anos), como uma das 24 únicas mulheres a treinar no Kodokan até então. Sua mãe e irmão apoiaram essa decisão, pensando que Fukuda acabaria por casar com um judoka, mas ela nunca se casou, se dedicando completamente ao Judo.

Em 1937, Shihan Fukuda se tornou instrutora de Judo do Kodokan (além disso, ela se formou em literatura japonesa na Universidade Showa Woman). Depois de completar sua educação formal no Japão, Shihan Fukuda visitou os Estados Unidos da América para ensinar nas décadas de 1950 e 1960, e acabou ficando por lá definitivamente.

Em 1953 foi promovida ao 5º Dan, o grau máximo que era concedido a uma mulher. Por volta de 1972 (quase 20 anos depois), após uma campanha contra a regra que proibia as mulheres de serem promovidas a uma graduação maior do que o 5º Dan, Shihan Fukuda se tornou a primeira mulher promovida a 6º Dan pelo Kodokan. Em 1973, Shihan Fukuda publica “Nascida para o Combate: Kata para as mulheres”, um livro de instrução sobre os Katas do Kodokan dedicado exclusivamente as mulheres e, em 1974, estabeleceu o acampamento anual Joshi Judo para dar aulas às praticantes do sexo feminino.

Em 08 Janeiro de 2006, o Kodokan promoveu Shihan Fukuda ao posto de 9º Dan - a primeira vez que foi concedido esse status a uma mulher. Em agosto de 2011, aos noventa e oito anos, Shihan Fukuda tornou-se a primeira mulher a ser promovida ao mais alto nível do Judo, o 10º Dan.

Shihan Keiko Fukuda, que era a última discípula viva do mestre Jigoro Kano e considerada a maior autoridade mundial em Ju No Kata, faleceu aos 99 anos, em sua casa (San Francisco - Califórnia), no dia 9 de fevereiro de 2013.

Shihan Fukuda deu aulas em seu Dojo até o último dia de sua vida, e antes de partir deixou um conselho a todas as mulheres:

Seja gentil, seja amável e seja bonita, ainda firme e forte, mentalmente e fisicamente.

Yata No Kagami - o Símbolo do Kodokan

É composto por um circulo vermelho que representa o Sol, inscrito no centro de uma figura branca octogonal (oito lados) e simboliza, segundo a tradição japonesa, um "espelho mágico" que reflete a nossa imagem interior, o nosso espírito, com o poder de revelar o que há na alma. A parte branca significa a busca do Judoka em purificar e o sol vermelho no seu interior significa as virtudes do Judo ao redor das quais as atitudes do Judoka devem centrar-se. Não confundir com a Sakura No Hana (flor de cerejeira), que representa, geralmente, as escolas antigas de Jujutsu e possui cinco lados!

O Kodokan

Em fevereiro de 1882, Shihan Jigoro Kano - aos 22 anos de idade - funda o Kodokan (Instituto onde se Aprende o Caminho) com apenas doze tatames e nove alunos (com idades entre 15 e 18 anos). Shihan Jigoro Kano albergou-se e ocupou-se deles como se fosse um pai. Foi um período difícil, mas apaixonante. O jovem professor não tinha dinheiro e o shiaijo media somente 20m², mas, apesar de todas as dificuldades, a escola progrediu e logo se tornou célebre.

Os mais temidos lutadores da época, impulsionados pela inveja, não se cansavam em desafiar os discípulos do Shihan Jigoro Kano. Houve muitos encontros memoráveis com o intuito de testar a eficácia do Judo Kodokan. Os alunos do Kodokan tinham fama de serem imbatíveis, por isso, eram insistentemente desafiados. Qualquer lutador que conseguisse alguma vitória sobre um dos alunos do Kodokan cresceria em fama e prestigio.

Mas foi só no final de 1886, após uma célebre competição contra várias escolas de Jujutsu organizada pela polícia no Campeonato Policial Bujutsu, que definitivamente ficou constatado o grande valor do Judo Kodokan (13 vitórias e 2 empates). Este resultado constituiu-se num marco decisivo na aceitação do Judo, com o reconhecimento do povo e do governo que passaram oficialmente a prestigiar o Judo Kodokan. Depois da célebre vitória de 1886, como ficou conhecida, o Judo Kodokan começou a progredir com passos confiantes. Em 1909 o governo japonês resolve tornar a Kodokan uma instituição pública, uma vez que a prática do Judo estava tendo ótima aceitação. Em 1934 o Kodokan já estava instalado em um edifício de três andares, ocupando uma área de 2000m², aproximadamente. Nessa época o Judo começava a ser introduzido em quase todas as nações civilizadas do mundo, todavia, no ocidente o termo Jujutsu ainda era empregado, embora o nome do Shihan Jigoro Kano fosse citado. Em março de 1958 é inaugurado o novo Instituto Kodokan num edifício especialmente construído para a organização e a administração do Judo, no Japão e no mundo, com um dojo de 500 tatames e seis outros menores, sendo três com 108 tatames e outros três com 54 tatames, que seriam utilizados para os mais diversos objetivos do ensino e do treinamento, com departamentos especiais para crianças, mulheres, estudantes, competidores de alto nível e estrangeiros, além de abrigar dependências para toda a parte de administração, alojamento e restaurante, totalizando 41 áreas específicas.

O Kodokan crescia em tamanho, em virtudes e no respeito da sociedade e para que assim continuasse, instituiu Shihan Jigoro Kano algumas normas que os alunos prometiam seguir e por elas empenhavam a sua palavra, além de assinar um termo que dizia:

No caso de ser admitido no Kodokan, prometo não ensinar ou divulgar os conhecimentos da arte que me será ministrada, salvo permissão das suas autoridades. Não executarei a arte publicamente para fins de lucro pessoal. Conduzir-me-ei de tal forma que nunca mancharei a honra e a tradição do Kodokan. Não abusarei, nem darei um uso indevido ao conhecimento do Judo”.

Após assinar o termo acima exposto, o pretendente a judoka deveria provar a seriedade de seus propósitos e a sua idoneidade moral. Tais normas perduram até hoje.

Judo - Seu Propósito, Início e Desenvolvimento

Judo significa Caminho Suave (a não oposição de forças) e derivou principalmente do Jujutsu (arte de ataque e defesa sem o uso de nenhuma arma ou instrumento a não ser o próprio corpo), que tinha muitos nomes e muitas escolas. Shihan Jigoro Kano aproveitou as melhores técnicas de todas as escolas de Jujutsu que estudou - descartando as que julgou precárias e excessivamente violentas - e desenvolveu as técnicas de amortecimento de quedas (ukemis) e criou uma vestimenta especial para o treino do Judo (o judogi), pois o utilizado pelos praticantes de Jujutsu - o Hakama - provocava muitos ferimentos, criando assim em 1882, baseado em suas próprias análises e estudos, o Judo. Ao substituir Jutsu (técnica) por Do (caminho), Shihan Jigoro Kano enfatiza que o Judo não é somente uma eficiente luta corporal de combate, mas também - e o mais importante - uma filosofia de vida, um caminho a ser seguido na formação do físico e do caráter de cada Judoka.

Shihan Jigoro Kano dividiu esta nobre arte em duas formas distintas: (1) uma abrangendo as técnicas de queda, imobilizações, luxações e estrangulamentos como forma de exercícios físicos - o Judo como esporte; (2) e a outra abrangendo todas as técnicas descritas acima mais os Atemi-Waza (técnicas de golpear os pontos vitais com as mãos e os pés) - o Judo como defesa pessoal.

Shihan Jigoro Kano e a Difusão e Aceitação do Karate no Japão

Shihan Jigoro Kano foi o grande responsável pela difusão e aceitação do Karate moderno no Japão. Fora a pedido expresso dele que o Shihan Gichin Funakoshi, vindo de Okinawa (havia um forte preconceito dos outros japoneses contra todos e tudo o que vinha desta província), aceitou ficar algum tempo mais no Japão ensinando sua arte. Shihan Jigoro Kano também o convidou para fazer uma demonstração reservada no Kodokan e sugeriu que trocasse a vestimenta usada no Karate pela a mesma do Judo, diminuindo assim o preconceito que havia contra o Karate de Okinawa no Japão. Este encontro foi tão marcante e importante para o Shihan Funakoshi que o mesmo acrescentou ao seu Karate algumas técnicas de Judo que ele aprendeu com o Shihan Jigoro Kano, como por exemplo, o De Ashi Harai. Shihan Jigoro Kano tornou-se amigo íntimo de Shihan Funakoshi e o apresentou às pessoas certas, nos círculos sociais da elite japonesa, e o ajudou a demonstrar o Karate ao Imperador. Tudo isso foi decisivo para que o Karate fosse aceito e respeitado por todo o Japão, e sem a ajuda do Shihan Jigoro Kano, talvez nunca houvesse o Karate moderno.

Shihan Funakoshi, até o fim de sua vida, como prova de sua gratidão, inclinava-se todas as manhãs em direção ao Kodokan em memória de seu amigo já falecido e sempre que passava em frente ao Kodokan fazia questão de parar, tirar o seu chapéu e dizer para quem o acompanhava: sem meu amigo Shihan Jigoro Kano eu não estaria aqui hoje!

Shihan Jigoro Kano

O Judo foi criado em 1882 pelo Shihan Jigoro Kano, que nascera em 28 de outubro de 1860 em Mikage, no Distrito de Hyogo - Japão. Com 16 para 17 anos (e de físico franzino, medindo 1,50m e pesando 48kg), Shihan Jigoro Kano iniciou o treinamento de Jujutsu e em 1882 fundou seu próprio dojo - o Kodokan. Em 1891 - com 31 anos - casou-se com Sumako, filha mais velha do então embaixador japonês na Coréia, Seizei Takezoe, e teve nove filhos (seis meninas e três meninos). Em 04 de maio de 1938, com 78 anos, Shihan Jigoro Kano faleceu de problemas pulmonares a bordo do transatlântico "Hikawa Maru" quando voltava do Cairo, onde havia presidido a assembléia geral do Comitê Internacional dos Jogos Olímpicos.

Shihan Jigoro Kano foi um homem de rara inteligência e muito à frente do seu tempo. Galgou um a um os degraus da Escala Imperial Japonesa, tendo obtido o segundo grau postumamente. Era poliglota (japonês, francês, alemão, inglês e espanhol), entusiástico calígrafo e tocador de shakuhachi (flauta de bambu japonesa). Formado pela Universidade Imperial de Tóquio em Literatura, Ciências Políticas e Política Econômica, foi professor, vice-presidente e reitor do Colégio dos Nobres; adido do ministro da Casa Imperial; conselheiro do ministro da Educação Nacional e professor honorário da Escola Normal Superior de Tóquio; diretor da primeira escola de segundo grau e da escola normal de Tóquio e secretário do Ministério da Educação Nacional; patrocinador das artes tradicionais japonesas, especialmente as músicas e as danças clássicas, e fundou sociedades e institutos para jovens e o primeiro clube de Baseball do Japão. Foi presidente do Centro de Estudos das Artes Marciais, presidente da Federação Desportiva do Japão, o primeiro asiático a pertencer ao Comitê Olímpico Internacional (1909) e considerado o Pai da Educação Física no Japão.

O Caminho Suave

A tradição japonesa fala de um salgueiro e de uma cerejeira durante uma tempestade de inverno. Os galhos da cerejeira, rígidos, quebravam tais finos gravetos sob o peso da neve que se acumulava sobre eles, enquanto que os galhos do salgueiro, flexíveis, cediam fazendo a neve escorregar, voltando a sua posição original e não lhe dando chance de pressioná-los. Nascia assim o principio do Judo: ceder para vencer.

domingo, 26 de abril de 2015

Dicas Indispensáveis para Cuidar do seu Judogi

O Judoca deve sempre se apresentar com o seu melhor, isso demonstra o respeito com você, ao mestre e aos companheiros de treino. A quantidade de Judogis que você deve ter deve ser compatível com a quantidade de treinos semanais. Com apenas um Judogi você não pode treinar a semana inteira, o ideal é que você tenha um Judogi para cada dia de treino, mas se isso não for possível você deve compensar mantendo-o sempre limpo.

Sabemos que um Judogi bom e resistente custa caro, portanto, se você seguir essas dicas, seus Judogis irão durar muito mais:

1- Nunca, em hipótese alguma, utilize alvejantes, cloro ou similares. O tecido do seu Judogi perde a resistência e fica suscetível a rasgos e diminui a durabilidade.

2- Lave seu Judogi após cada treino. Se não der para lavar, pelo menos o estenda aberto em local bem ventilado e na sombra para que o suor evapore. Nunca deixe seu Judogi suado dentro da sua mochila de treino. Além de estragar o tecido (o suor contém ácido úrico, ou seja, mais corrosivo do que os alvejantes), será uma festa para as bactérias!

3- Lave seu Judogi do avesso. O atrito com a pele remove as células mortas, e lavando do avesso facilita que elas sejam removidas do tecido.

4- Lave sempre seu Judogi com água fria. A água quente ajuda a fixar sujeira e ainda facilita o encolhimento além do normal do Judogi.

5- Para os Judogis Branco uma técnica bem interessante e muito utilizada é você utilizar Bicarbonato de sódio (1/2 copo americano) por Judogi a ser lavado. Ele ajuda a deixá-los ainda mais branco sem agredir o tecido. Caso alguma mancha persistir, você pode deixar um pouco de molho (cerca de 30 minutos) no tanque ou na máquina de lavar com sabão em pó neutro e uma quantidade pequena de alvejante sem cloro (Vanish e similares). Atenção, não coloque no sol para quarar. Depois bata na máquina de lavar, ou esfregue no tanque e enxague bem! Já o Judogi Azul, por não encardir com tanta facilidade, pode ser lavado normalmente, seguindo as dicas anteriores.

6- Se você preferir, após a lavagem pode deixar o Judogi de molho com amaciante por alguns minutos dentro do tanque ou da máquina e em seguida enxaguar. O amaciante, além de deixar mais macio e perfumado, ajuda a retirar o excesso de sabão que pode deixar manchas, especialmente no Judogi Azul. Alguns preferem não usar o amaciante exatamente para que ele fique mais “duro e áspero”. Aí vai do gosto de cada um.

7- Evite lavar Judogi Brancos junto com o Azul, pois este costuma soltar um pouco da tinta, especialmente quando é novo, e irá manchar o branco.

8- Não coloque seu Judogi para secar ao sol e não use secadoras. Ele deve secar do avesso, em local bem ventilado e na sombra, pois o calor faz com que as fibras enrijeçam, além de provocar o encolhimento além do normal do Judogi.

9- Após todo treino, pendure sua faixa em lugar bem ventilado e na sombra. Por tradição não se lava a faixa. Ela simboliza sua honra, sua vontade (por isso deve ser amarrada com um nó firme) e seu progresso no aprendizado do Judo. Nela está contida toda a marca do seu esforço e dedicação. Na tradição do Judo, a faixa começa branca e com o tempo, através de treinamento duro, ela vai acumulando as marcas do aprendizado e escurecendo até se tornar marrom e, finalmente, preta.

10- Nunca utilize cola para fixar os patchs, sempre costure. Além de mais seguro e esteticamente mais bonito, não agride e nem estraga o tecido.

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